Endometriose na bexiga: dos sintomas ao tratamento
Postado em: 27/04/2020
A endometriose na bexiga atinge entre 6 e 10% das mulheres com endometriose profunda e é definida quando a doença acomete a musculatura da bexiga.
É muito comum que focos de endometriose estejam somente encostando na bexiga, sem invadir o músculo e, neste caso, consideramos um foco de endometriose superficial.
O músculo da bexiga é chamado de detrusor e, portanto, um exame que relata um foco de endometriose no detrusor está se referindo a um foco de endometriose na bexiga. A doença também pode ser chamada de endometriose vesical.
A endometriose na bexiga geralmente está associada a outros focos de endometriose na pelve e é comum a aderência entre a bexiga e o útero, sendo a idade mais comum para o diagnóstico entre 30 e 35 anos.https://youtu.be/_nm8vjTZg84
Sintomas da endometriose na bexiga
Os principais sintomas da endometriose na bexiga são:
- Dor para urinar durante o período menstrual;
- Aumento da frequência urinária;
- Sangue na urina durante;
- Sintomas semelhantes aos da infecção urinária;
Na história é frequente a paciente referir infecção urinária de repetição durante o período menstrual, mas na verdade, o diagnóstico correto é endometriose na bexiga.
Os sintomas acima são específicos, porém são comuns outros sintomas associados, devido a endometriose também estar localizada em outros locais, como intestino, vagina e ovário.
Sintomas de endometriose em outros locais:
- Cólica forte no período menstrual;
- Dor na profundidade durante as relações sexuais;
- Diarreia, constipação ou dor para evacuar durante o período menstrual;
- Dor na escápula ou ombro direito durante o período menstrual (endometriose no diafragma);
- Infertilidade, independentemente de sintomas dolorosos;
- Dor na cicatriz da cesárea (endometriose na cicatriz da cesárea);
- Dor umbilical (endometriose no umbigo);
- Fadiga crônica;
- Distensão abdominal.
Diagnóstico
O diagnóstico de endometriose na bexiga pode ser pensado diante da história clínica, sendo que o exame físico geralmente não oferece informações importantes, além de uma bexiga dolorosa.
Na consultas, exame físico deve ser sempre realizado, pois traz informações adicionais sobre a endometriose profunda em outros locais, como na retrocervical, ligamento uterossacro e intestino, que podem ser palpadas em até 70% das vezes.
O diagnóstico deve ser feito por meio de exames específicos para a endometriose, como o ultrassom transvaginal com preparo intestinal e a ressonância magnética.
Ambos os exames apresentam sensibilidade entre 90 e 100% na detecção da endometriose profunda, desde que seja realizado por um especialista em endometriose.
Outras doenças podem estra associadas com a endometriose, como por exemplo a adenomiose, presente em até 15% das vezes.
A ultrassonografia transvaginal consegue avaliar ainda, a possível aderência entre o útero e a bexiga, informação importante para o tratamento.
O maior estudo científico sobre endometriose na bexiga demonstrou que a ultrassonografia transvaginal realizada com bexiga cheia é o melhor exame para o diagnóstico de endometriose vesical, com uma taxa de detecção (sensibilidade) de 100%.
É interessante que as lesões de endometriose na bexiga, diferentemente das lesões de endometriose profunda, com frequência apresentam pequenos cistos em seu interior.
Cistoscopia para o diagnóstico de endometriose vesical
A cistoscopia é um exame que se coloca uma câmera dentro da bexiga, sendo possível avaliar com detalhes a parte interna da bexiga.
É um exame importante para o diagnóstico de tumores e cálculos, sendo possível a realização de biópsias quando necessário.
A cistoscopia consegue detectar somente cerca de 70% das lesões de endometriose na bexiga, pois a doença acontece na musculatura e não na parte interna (mucosa).
Apenas lesões grandes que invadem a musculatura e a camada interna da bexiga (mucosa), podem ser percebidas durante o exame.
Estágios da endometriose
A endometriose é dividida em estágios, de acordo com a quantidade de tecido e na profundamente que ele se estende aos órgãos. Esta classificação deve ser realizada antes da cirurgia, pelos métodos de imagem.
- Estágio 1: Mínimo. Tem apenas pequenas quantidades de tecido crescendo, e só é encontrada na superfície ou ao redor dos órgãos.
- Estágio 2: Leve. Tem um crescimento de tecido mais extenso, mas ainda está na superfície dos órgãos, e não dentro deles.
- Estágio 3: Moderado. Tem um tecido mais disseminado, que começou a crescer dentro dos órgãos pélvicos.
- Estágio 4: Grave. Tem muito tecido endometrial, que está crescendo dentro de vários órgãos pélvicos.
A endometriose na bexiga geralmente é um estágio 3 ou 4 na maior parte das vezes.
O que causa endometriose da bexiga?
Não se sabe a certo o que causa a endometriose na bexiga, mas postulam-se algumas teorias:
- Menstruação retrógrada: durante a menstruação, o sangue flui para trás através das trompas de Falópio e para a pelve, em vez de sair pela vagina. Essas células então, se implantam na parede da bexiga na mulheres com tendência para a endometriose, sendo a teoria mais aceita.
- Transformação celular precoce: as células que sobraram do embrião se transformam em tecido endometrial.
- Cirurgia prévia: células endometriais se fixam na bexiga durante uma cirurgia prévia, como uma cesárea ou histerectomia. Esta forma da doença é chamada endometriose da bexiga secundária.
- Transplantação: as células endometriais viajam através do sistema linfático ou do sangue para a bexiga.
Tratamento da endometriose na bexiga
O tratamento das mulheres com endometriose deve sempre ser focado em resolver os sintomas e melhorar a qualidade de vida.
O tratamento de escolha para a endometriose na bexiga é a cirurgia, porém, não deve ser realizada em mulheres assintomáticas.
A cirurgia de endometriose deverá ser feita para tratar todos os focos de endometriose e não somente a doença na bexiga e, portanto, é necessário um adequado estadiamento da doença, para planejar o tratamento e uma equipe multidisciplinar deve estar envolvida no ato cirúrgico.
É recomendado que um urologista participe da cirurgia, toda vez que a endometriose acometer a bexiga perto dos ureteres, o chamado trígono vesical ou o ureter propriamente.
Nas mulheres que não querem ou não podem realizar a cirurgia, o tratamento da endometriose visa diminuir a dor e melhorar a qualidade de vida.
O tratamento hormonal e tratamentos alternativos podem ser realizados nestas situações, idealmente em conjunto, mas também isoladamente.
Os medicamentos de escolha são as progesteronas, que podem ser encontradas em pílulas, DIUs como o Mirena e o Kyleena, implantes ou na forma injetável intramuscular.
O tratamento hormonal combinado com progesterona e estrogênio, como as pílulas, adesivos transdérmicos e o anel vaginal são boas opções para mulheres que não se adaptaram com a progesterona isoladamente.
Dietas com gordura de boa qualidade, como o omega 3, demonstraram redução no risco de desenvolvimento de endometriose, além de diminuir os risco de doenças crônicas e gerar bem estar e, por isso, as orientações alimentares são importantes.
Endometriose no uterer
O ureter é uma estrutura que leva a urina do rim para a bexiga.
A endometriose no ureter acomete cerca de 3% das mulheres com endometriose profunda. Sua importância está no fato da lesão no ureter determinar acúmulo de urina no rim, a chamada hidronefrose.
A hidronefrose crônica determina perda da função do rim no lado acometido e, por este motivo toda vez que há doença no ureter com hidronefrose, a cirurgia deve ser realizada.
Mesmo mulheres sem sintomas devem ser operadas, para preservar a função do rim.
A dilatação do ureter não determina dor no rim, como acontece na cólica renal causada por uma pedra.
Embora seja considerada um tipo de endometriose urinária, na maior parte das vezes a endometriose no ureter não está associada com endometriose na bexiga, mas sim com endometriose profunda nos ligamentos uterossacros e no paramétrio.
Infertilidade e endometriose
Infertilidade é definida quando um casal tenta engravidar por um ano e não consegue, e está presente em cerca de 30-50% das mulheres com endometriose.
Como as mulheres com endometriose na bexiga geralmente tem muitos outros focos de endometriose na pelve, a chance de infertilidade é alta.
Os mecanismos relacionados com a infertilidade são devidos a obstrução das trompas por endometriose e ao processo inflamatório crônico na pelve, dificultando a implantação do bebê dentro do útero.
Gravidez e endometriose
Endometriose e gravidez é um questionamento frequente no consultório.
Evidências científicas demonstram que mulheres com endometriose que engravidam, apresentam um risco maior para parto prematuro, bebê pequeno, abortamento e placenta baixa.
Embora estes riscos sejam aumentados é importante destacar que o mais provável é que tudo dê certo.
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Referências bibliográficas (fontes)
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- Endometriose da bexiga: uma revisão sistemática da patogênese, diagnóstico, tratamento, impacto na fertilidade e risco de transformação maligna. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28040358/
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- Diretriz ESHRE: Manejo de Mulheres com Endometriose. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24435778/;
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- Endometriose profunda afetando a bexiga: resultados a longo prazo do tratamento cirúrgico. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/23778640/;
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- Cirurgia versus terapia hormonal para endometriose profunda: é uma escolha do médico? https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27544308/;